sábado, 21 de marzo de 2009

Outras noites sem sono...

Estimados leitores, bem vindos a mais uma madrugada...

Se isto fosse um programa de radio, tinhamos pano para mangas. Comecei este post sem ter a minima ideia do que vai sair daqui.

Que fazemos quando não temos sono e não queremos estar as voltas na cama para não incomodar a pessoa com quem a partilhamos?

¡Ni puta idea!

Hoje até foi um dia agitado e não entendo porque não tenho sono. Talvês por ter coisas que fazer amanhã cedo, ou seja daqui a 3 horas. Realmente algo de responsabilidade já vem a calhar. Como disse antes, hoje foi um dia atarefado, depois de me levantar ao meio dia... almocei um peixinho muito á maneira, fui levar a minha menina ao trabalho e fui até Cáceres. 208 quilometrozinhos... Fiz os meus afazeres e voltei... mais outros 208 quilometrozinhos. Mesmo a tempo de apanhar a minha cara metade a sair do trabalho. As coisas bem programadas sabem sempre bem...
O jantar foi algo interessante, num Chinez desses que pagas X e comes o que te couber e em que a sexta-feira já faz parte do fim de semana e tens de pagar mais...
Depois de uma boa e nutritiva refeiçao ainda tive tempo de montar a cama nova e dar um jeitinho as coisas para parecerem bonitas. No fim disto tudo ainda deu tempo de "ensinar" algumas coisas do Tomb Rider a alguem... lol, ver o 9º Capitulo da 5ª Temporada de Lost, que cada vez está mais interessante...

E o resto não digo... :o)

Depois como já disse antes vim cuscuvilhar na net porque não tinha sono. Com isto tudo são 6:33 da manhãe não me apetece escrever mais. Acho que vou tomar um café e ver alguma coisinha mais por aqui até aterrar no sofá ou passar o tempo até as 9:30...

Muito boa noite e foi um prazer ter a vossa companhia nesta madrugada de sexta-feira... Sei que a maior parte de voçes deve estar a chegar a casa com uma tremenda bebedeira, mas pronto... Fáz-me ilusao estar a escrever... Uns minutinhos de publicidade e depois...

Só grandes musicas...








E agora... 
 

Quando acabei eram 7:21

Orlando Martins

jueves, 19 de marzo de 2009


Os últimos post's foram excertos de uma revista, a qual lia de forma habitual em Portugal. A revista ípsilon do jornal Público. Já tinha algumas saudades de ler e encontrei estes dois artigos que me pareceram bastante interessantes. Coisas da vida... 
Quando nos damos conta, tudo muda, nada fica como antes. Quantas vezes passa pela vossa cabeça: Há um ano atrás quem me diria que ia estar onde estou, como estou ou com quem estou... Faz parte da vida... Tudo são possibilidades... Que me teria acontecido se não tivesse deixado um coment no perfil da Vanessa? Onde estaria eu, que estaria a fazer, que seria de mim? 
Não me questiono por pensar que poderia estar melhor... Ao contrário de muitas outras vezes, estou contente com a minha opção, estou contente com a minha vida e estou feliz com quem estou. 
Mesmo com a crise que nos afecta a todos, vou sobrevivendo... vou vivendo... estou a viver e tudo o que sempre procurei apareceu sem pedir e sem procurar... Isto é viver! Sempre senti falta de muitas coisas ao longo da vida, sempre tinha necessidade de encontrar algo... Dei a volta ao mundo à procura do que nunca encontrei... E tal como tenho a revista ípsilon na Net... E todos os domingos a posso ler... Tenho tudo o que encontrei sem procurar, bem perto... Abraçada a mim todas as noites...

Orlando Martins

martes, 17 de marzo de 2009

Em que língua andamos a rir?


Numa altura em que se diz que há mais humor que nunca em Portugal, fomos saber: há um humor português ou são apenas variações do humor inglês e americano?
Um ser vagamente melancólico, com predisposição para a nostalgia dos gloriosos tempos dos seus egrégios avós, enquanto acumula pequenas derrotas diárias que aceita com resignação.
Foi esta a imagem do português com que crescemos, a que ouvimos milhares de vezes em cafés, programas de televisão, jornais, livros e no cinema: somos o povo do fado, não sabemos dançar como o irmão brasileiro, não sabemos fazer a festa como o vizinho espanhol, não temos o dom de nos auto-depreciarmos com gosto como o civilizado amigo inglês. 

E, no entanto, esta gente ri-se. Assim de repente, e recorrendo apenas a exemplos inevitáveis, riu-se do provincianismo das suas elites (com Eça), riu-se da mesquinhez de, bem, de toda a gente (com Camilo), riu-se do absurdo dos seus atavismos e dos seus ascensores sociais (com Herman), riu-se da sua linguagem vazia (com o Gato Fedorento). No entanto, riu de quê e como? Quantas vezes e porquê? Mais que tudo: riu-se em português?
Ao longo dos séculos temos teorizado sobre o nosso humor, convictos que o devir nacional nos empurra para a desgraça desde que começámos a desbaratar o império graças a um rei adolescente desaparecido em Ceuta. E é com a mesma tranquilidade com que nos atribuíamos uma resignação mórbida que dizemos que nunca houve tanto humor como hoje. Talvez o século XXI ande a correr-nos melhor, talvez tenhamos aprendido como fazer rir os conterrâneos.
Será?

Uma antologia facilita a tarefa de tentar perceber o que terão sido os humores nacionais, pelo menos no que toca aos últimos 40 anos. Chama-se, apropriadamente, "Antologia do Humor Português", é organizada por Nuno Artur Silva (humorista e dono das Produções Fictícias) e por Inês Fonseca Santos (jornalista). Cobre, segundo a premissa dos seus autores, o período que vai de 1969 a 18 de Abril de 2009. Estamos quase lá, motivo mais que suficiente para inquirir o que é (ou foi) isso do humor nacional.

A compilação aponta caminhos, mas tem as suas particularidades. Primeira: devido à escassez de textos especificamente de humor são incluídos textos literários que usam o humor, o que pode levar a uma confusão de género: uma coisa são textos "de" humor, outra textos "com" humor... Por outro lado, esta mistura tem a vantagem de mostrar que certos escritores com propensão para a tragédia também recorrem com eficácia à arma letal do (sor)riso.

Segunda premissa: só estão presentes textos que tenham sido publicados em livro, o que automaticamente elimina todo e qualquer guião de Herman, uma boa parte dos textos usados em rádio, muito bom texto de jornal (e por isso na introdução os compiladores lamentam ter de deixar de fora as crónicas do magnífico Nuno Brederode Santos).

Sobra o quê? Alguma literatura, alguns desalinhados, alguma poesia, algumas obras colectivas, alguns cronistas. É preciso olhar para as escolhas com calma para percebermos se o retrato é fiel à realidade ou não.

Pobrezinhos, linguagem de bairro

Numa primeira secção, de nascidos antes da década de 1950, juntam-se escritores e poetas com óbvias tendências humorísticas, como Cesariny, Nuno Bragança, Dinis Machado, Assis Pacheco, Alexandre O'Neill, Mário Henrique Leiria, Mário de Carvalho, etc. 

Numa segunda secção temos nomes inesperados, como João César Monteiro ou o esquecido José Sesinando, nome que Palma Carmo usava nos seus textos "non-sense" sobre música no "Jornal de Letras". 

Na terceira secção temos escritores contemporâneos (Alface, Luísa Costa Gomes, Miguel Esteves Cardoso, Adília Lopes, Rui Zink, Jorge de Sousa Braga, etc). Depois há uma secção para as obras colectivas, que une o "Livro da Treta" aos livros que compilam as notícias saídas n' "O Inimigo Público", ao livro do blog Barnabé, ao do Gato Fedorento (etc). 

Numa última secção temos uma estranha mistura de "jovens", que vê Nilton emparedado entre Pedro Mexia e Nuno Costa Santos, e junta o cronista Rui Tavares a José de Pina e Eduardo Madeira.

"Quando começámos a ter de delimitar o objecto decidimos não nos debruçar sobre filmes, sketches, jornais porque não teríamos tempo. Por isso ficámos no que saiu em livro - da literatura, rádio, blogs, etc", diz Nuno Artur Silva, justificando a opção, que não é de todo pacífica. 

Miguel Esteves Cardoso (MEC) assinala o facto realçando que "é uma antologia feita pelas Produções Fictícias. Não é uma antologia no sentido nobre do termo - e estou à vontade para o dizer porque sou quem tem mais páginas lá dentro. Mistura alhos com bugalhos." MEC deixa bem claro que "o humor é uma nota, uma cor que se dá, dentro de todas as cores. A escrita humorística é outra coisa - é feita para rir, como a escrita porno é feita para dar tesão".

Ainda assim, o livro é um ponto de partida para responder à pergunta: "Existe algum tipo de humor a que possamos chamar português?" 
Pode parecer uma questão ingénua, mas a disparidade das respostas diz-nos que não é de simples resposta. Por exemplo, MEC não tem dúvidas que "não existe nenhum humor português". "Existe humor", continua o autor de "A Causa das Coisas", "mas se é feito ou não em português isso é outra coisa". Para vincar a sua posição recorre ao exemplo dos Gato Fedorento: "São nitidamente filhos dos Monty Python", o que lhe permite concluir que "não faz sentido nenhum tentar arranjar uma linhagem humorística portuguesa".

Herman José arrisca apenas dizer que "onde se está mais perto de um humor português é nos filmes do Vasco Santana". Herman explica a ideia: "A partir do 'Pátio das Cantigas' abastardámos, misturando influências vindas de fora. Agora, não há tanta fragmentação no nosso humor como em outros países porque o país é pequeno. Tão pequeno que agora faz tudo de 'gatinhos' como antes fazia tudo de 'hermaninhos', enquanto a revista tenta sobreviver sendo moderninha. E o que percorre tudo isto é sermos pobrezinhos." 

Herman, pragmático, entende que esta pequenez, geográfica e comercial (basicamente: não temos mercado porque não temos para onde exportar) determina o humor nacional - não só o produto final como a apetência para rir.
O escritor Mário de Carvalho, que Nuno Artur Silva refere como um exímio praticante do género, também teme qualificar o humor feito cá como essencialmente português. "Para saber se há humor português tinha de o comparar ao holandês ou ao coreano", diz, com graça. O autor do hilariante (e cruel retrato de um certo Portugal) "Havemos de Trocar Umas Ideias Sobre o Assunto" assinala que em Portugal "tem sido predominante o humor da revista, do trocadilho, da graçola, sem atingir nenhum grau de refinamento". Depois aponta factores que influem no humor e podem ser tidos como "portugueses": "Quando se usa a linguagem de bairros populares, com certos tiques de linguagem, certos modismos, talvez aí haja um humor radicado cá. Mas só se for isso. O O'Neill a falar de Campo de Ourique ou de Lisboa com amargura e ironia - mas não sei se isso será português porque não conheço o humor da Dinamarca." 

O mais português dos humoristas e as sílabas

O'Neill parece ser considerado - entre os exemplos recentes - o mais português dos humoristas. Nuno Artur Silva considera mesmo que uma das "marcas originais do humor português era a adição de uma certa melancolia, como se encontra no O'Neill, que juntou o melancólico e o satírico". Isso, diz, ainda existe hoje e "está presente num autor como o Nuno Costa Santos (NCS) que pegou na estafeta do O'Neill, com o seu universo de aforismos". 

Costa Santos, cujos "Aforismos de Pastelaria" retratam as dúvidas e pensamentos proto-filosóficos de uma série de figuras típicas do imaginário nacional, concede que "há um humor português" e recorre a um exemplo actual para fazer valer a sua tese: "O RAP funde uma linguagem 'non-sense' com - simplificando - a linguagem do MEC, a crónica de costumes, e isso tornou-se especificamente português. Mesmo quando há uma herança dos Monty Python aquilo é filtrado por um olhar português - caso do Herman ou dos Gato Fedorento". 

Depois acrescenta que "Bruno Aleixo também representa uma mundividência de Portugal" - curiosamente, Herman considera que o único exemplo de humor a que se pode chamar português desde Vasco Santan é Bruno Aleixo. 
Costa Santos introduz uma especificidade no discurso sobre a "Portugalidade", isto é, demonstra como num simples pormenor técnico pode-se encerrar uma ideia de Nação: "Pessoas como o Herman ou o RAP são grandes observadores, têm blocos de notas mentais em que vão registando maneiras de vestir, acentuações - no humor a forma como acentuas uma sílaba ou o 'timing' de uma frase faz toda a diferença e faz a piada funcionar ou não. E é nisto que há a especificidade nacional".

"Se percorrermos as cantigas de escárnio, alguma poesia barroca, Gil Vicente encontra-se muito humor feito em português", lembra Mário de Carvalho. "Não quero ser demasiado assertivo, mas o Camilo e o Eça quase arriscaria dizer que são cómicos", continua. "No Almeida Garrett há um humor fino. E até no Herculano desponta algum humor. Pode dizer-se que o humor não está ausente da literatura portuguesa, quer seja o desbragado, quer o mais solto e popular. E no século XX temos o André Brum, parcerias de teatro e algum Aquilino ("Malhadinhas")". Depois acrescenta a frase fatal: "Mas não temos nada como o Gogol, ou o Mark Twain ou o Wilde."

O francês que se tornou anglo-saxónico

Este é um resumo sintético e possível da herança humorística portuguesa que está ao dispor de qualquer leitor - a herança que os primeiros humoristas profissionais receberam, mesmo que não lhe tenham dado uso. 

A tradição disponível era a literatura que recorria ao humor ou, segundo MEC, "publicações como 'A Paródia', e muitos livrinhos e panfletos de morrer a rir" que circulavam desde o início do século. Recorria-se sobretudo, diz Nuno Artur Silva, a uma tradição de escrita "escatológica e obscena. Ultimamente isso já não tem sido recorrente porque já há liberdade de costumes e dizer palavrões não chama a atenção". 

Historicamente, recorda Artur Silva, "lá fora, no início do século XX, os humoristas estavam no cinema porque era o meio popular e emergente. Com a TV, nos anos 50, 60, os comediantes foram para o ecrã". 

Em Portugal o humor foi gradualmente desaparecendo da literatura, autonomizou-se enquanto género, e profissionalizou-se. Mas desengane-se quem pense que isso é de agora - segundo Herman José, há muitos anos que o humor é profissional por cá, apenas o mercado é que era minúsculo.

Por exemplo: antes do 25 de Abril já se fazia "uma forma de 'stand-up' popular". 
Na época, recorda, "um tipo como o Humberto Madeira fazia stand-up que não era popularucho". Já havia companhias de humor e Herman cita as de Henrique Viana, de José Viana e de Camilo de Oliveira. "Era um humor técnico de situações, como aqueles filmes de domingo à tarde, tipo 'Com jeito vai...' ou comédias de enganos - mas não se podia falar em política." 

E na revista "havia equipas de escrita muito boas. O Rogério Bracinha e César de Oliveira faziam equipa para a Ivone Silva, tinham coisas muito irónicas. Bastava o violinista ser canhoto para a Ivone dizer: 'Estás a desafinar', o que tinha uma leitura política e era o bastante para arrancar gargalhadas."

Realmente diferente era o acesso à informação: "na província", recorda Herman, "não havia isto: as pessoas eram muito desinformadas. À província iam espectáculos de variedades com o "star-system" da época, as mini-revistas (duos de êxito, melodias de sempre, etc), o Solnado, o José Viana - precursores do stand-up".

Depois aconteceu uma coisa engraçada: "No pós 25 de Abril os gostos pulverizam-se. Percebeu-se que a grande audiência está na novela, que é a grande aglutinadora. Por alguma razão o humor no Brasil é uma desgraça." Segundo Herman, "os escritores de revista", profissionais, note-se, "adaptaram-se e durante muitos anos deram-se lindamente. Os da TV andaram a apanhar bonés - a linguagem da revista que eles adaptavam não servia mais para a TV".
E depois, que aconteceu? Nuno Artur Silva: "Há duas figuras que são muito fortes e quase parece que não há mais nada: o MEC e o Herman, que fizeram uma mudança de modelo - era afrancesado e tornou-se anglo-saxónico".

"Eu importei o 'know-how' de Inglaterra, porque era o humor que mexia comigo", admite Herman, assim contribuindo para a sua tese de que o humor pós-Vasco Santana não é bem português. "Tem a ver com a maneira como se vende a ironia. Quem fizer um bêbedo de aldeia põe toda a gente a rir. Mas um padre a falar contra o casamento homossexual enquanto olha para um jovem em fato de banho..." Herman é realista quanto ao seu sucesso: "Há, em relação a mim, um fenómeno como o das músicas dos Beatles: são coisas que ganharam espaço na cultura pop porque vêm de épocas muito específicas. A altura era pobre. Hoje em dia já não era possível."

Diversidade, informação

Portanto: o humor autonomizou-se da poesia e da literatura, foi para a revista e para o cinema, e daí migrou para a televisão, atingindo o seu máximo, por cá, com Herman. E hoje?

Hoje, para Nuno Artur Silva "os escritores portugueses acabam por ser dominados pela cultura anglo-saxónica. Há uma mudança de modelo, com maior influência dos Monty Phyton. Os miúdos têm referências que não são sequer 'mainstream', mas que os afastam do humor tradicional". 

Esta última ideia - de que os miúdos hoje não precisam que os guiem no que toca a humor - é confirmada por MEC: "As gerações com menos de 40 anos conhecem todos os humoristas americanos e ingleses. São muito mais cosmopolitas do que pensamos. Estão a par do último grito do humor."

Há razões de ordem social para isto, como expõe Mário de Carvalho. "Portugal mudou: há mais licenciados e o público é mais exigente." Quando Nuno Artur Silva diz que, "mais que a ditadura, havia um espírito reverencial que fazia com que a comédia fosse vista como um género menor", estará apenas meio certo. O fim da ditadura trouxe por arrasto a democratização do ensino, que, em última instância, faz aumentar a velocidade de transmissão dos gostos.

O que se ganhou nos últimos anos, diz Artur Silva, foi "diversidade de registos". Certos tipos de humor tendem a ficar segundo plano: "O humor transgressor sobre a Igreja já não chama a atenção", aponta Artur Silva. "Os poderes eram mais claros antigamente., Hoje é tudo mais difuso, mais matizado, do poder económico ao mediático", pelo que o humor encontra novos pontos de abordagem. 
Apesar de todo este cosmopolitismo, há quem ache que o espectro do humor português ainda é limitado. Mário de Carvalho reconhece que "tem havido tentativas por parte do Gato Fedorento de fazer humor baseado no absurdo e no 'understatement'", mas assinala que "isso não passa pelos humores nacionais". E faz ver que "também não há um humor judaico, baseado nas situações e contradições e absurdos". 

Apesar de todo este cosmopolitismo o humor português ainda não tem a dose de agressividade e irrisão do americano. Herman: "É uma questão de tamanho. Há muito mais de 50 Portugais nos EUA. Quando o Letterman faz uma piada sobre o Buch sabe que não vai encontrá-lo ao virar da esquina no dia seguinte." 
Herman admite que "agora há mais informação" e que "os temas são mais variados", mas diz que "as coisas estão normalizadas. Como vemos na "Liga dos Últimos" ainda há muito bimbo - mas na Ucrânia também deve ser assim. Vemos cromos maravilhosos mas não é preciso criá-los porque eles já existem". E com maior acesso à informação, há um novo problema: "Os políticos já trazem a sua própria caricatura" e resta pouco ao humorista para fazer.

Humor com influências americanas, disseminado por várias plataformas, numa altura em que parece haver um vazio de poder. Que retirar de tudo isto? Herman, com muitos anos de experiência, é claro: "Estamos numa fase em que ou se tem um fenómeno de moda (como aconteceu com os Gatos) ou só temos novela, que é um bolo de bolacha de emoções que tomou conta das massas. Os programas de humor são satélites. Vivem das migalhas das novelas." 

Claro que, longe dos meios mediáticos, há uma "revolução" que "corresponde a uma especialização do humor: os comediantes surgem no meio emergente, que são os blogs e o Youtube" (Nuno Artur Silva). O blog, diz, trouxe "novas formas de humor", mesmo quando não se trata de humoristas puros: há escritores "mais cultos, mais individualistas, com maior diversidade de registos, como o Rogério Casanova (www.pastoralportuguesa.blogspot.com), o Maradona (www.acausafoimodificada.blogs.sapo.pt) , o Mexia." 

E algum desse humor é português? Talvez: Costa Santos diz, com graça, que "as disputas de 'one liners' [basicamente: piadas assassinas de uma só frase] no Twitter são variações do fado à desgarrada".

13.03.2009 - João Bonifácio

domingo, 15 de marzo de 2009

"Aos 78 anos já não quero ser 'Dirty Harry'"


É o 66º filme de Eastwood enquanto actor e o 29º como realizador. Alguma da solidão que se sente nele, concorda Clint, já a conhecemos de outros filmes seus. De "Dirty Harry", de "Million Dollar Baby", de "O Sargento de Ferro"... Mas "Gran Torino" é o filme de uma solidão terminal, de algo que acaba. É o filme de um último acto - o de um reaccionário e resmungão veterano da Guerra da Coreia que não reconhece o mundo que o rodeia.

Pela tarde, o gabinete de Clint Eastwood está calmo e banhado em luz dourada. Ao contrário de outros bangalós nos estúdios da produtora Warner Brothers em Hollywood, o de Eastwood apresenta um ambiente rústico e móveis tradicionais que conseguem ser tão práticos quanto elegantes e distintos. O que fica bem a este ícone que já completou 78 anos, começou a sua carreira como um John Wayne mas que parece estar a terminá-la como um John Ford. 

A mais recente aquisição para a decoração do escritório é um sombrio "poster" de "Gran Torino", o 66º filme de Eastwood enquanto actor e o 29º como realizador. Na fotografia a preto e banco, a cara da estrela está fixada com o seu famoso esgar severo e determinado, uma arma que há décadas vem sendo apontada aos vadios e escroques das ruas dos seus filmes.

Eastwood é o primeiro a dizer que, para "Gran Torino", um filme que na América e nos mercados europeus está a bater os recordes de bilheteira de um filme realizado e protagonizado por Eastwood, foi lançada alguma publicidade enganosa, com o seu dramático esgar e a sua subliminar mensagem para os fãs de longa data, que poderão pensar que o seu filme é acerca de "Dirty Harry" Callahan a trabalhar num caso de roubo de automóveis.
"Acho que o filme, com as suas 'nuances', vai surpreender algumas pessoas", diz, enquanto se senta num sofá no escritório. "Se fosse apenas um filme de porrada, bem, então eu não o queria fazer. Já fiz esse tipo de filmes. Actualmente, só faço um filme que tenha algo para dizer. Aos 78 anos já não quero ser 'Dirty Harry'."

Do outro mundo

Em vez disso, traz-nos o irritável Walt Kowalski, um veterano da Guerra da Coreia que enviuvou e que considera a sua casa isolada e o respectivo pátio como território ocupado no meio de um bairro que ao longo das décadas se foi transformando. A maior das mudanças foi a chegada de vizinhos de etnia hmong, cujas faces, linguagem e cultura asiáticas relembram a Kowalski os seus próprios negócios escuros, que ele esperava ter deixado para trás numa terra distante. Essas memórias e uma guerra a crescer na vizinhança com jovens membros de um gangue lançam as raízes do conflito do filme e, bem, quem reconhece o esgar no "poster" já sabe que há um duelo a caminho.

O título do filme refere-se ao bem mais precioso de Kowalski: um potente e resplandecente automóvel, um "Gran Torino" de 1972 que está guardado na sua garagem, juntamente com uma colecção de ferramentas que foi adquirindo ao longo da vida e que trata com reverência, como se fossem lembranças de uma época em que os homens conseguiam consertar coisas e as pessoas diziam o que pensavam e trabalhavam arduamente. Existe em Kowalski algo de Archie Bunker [personagem principal da série televisiva de humor dos anos 70 "All in the family", em português "Uma família às direitas"], com o seu profundo e impressionante conhecimento de termos raciais.

Eastwood ri-se com a ideia de que o filme é um dicionário do léxico de intolerância dos brancos norte-americanos. "Ele pode pertencer a outro mundo mas é um homem típico da sua geração. Nos anos 40 toda a gente falava assim. Lembro-me de ir para a Oakland Tech, que era uma escola secundária mas que também tinha ligações com uma escola profissional. Todos os veteranos que voltavam da Segunda Guerra Mundial iam para lá estudar, por isso acabávamos por estar no mesmo espaço de tipos que tinham 25, 26, 27 anos. E eles falavam assim. Chamavam uns aos outros Sam Judeu, Joe Irlandês, Frank Latino, ou lá o que fosse. Mas é claro que diziam sempre isto com um sorriso na cara. Se dissessem sem um sorriso na cara, bem, aí então já queriam dizer outra coisa."

Sobre a perda

Eastwood, como é seu hábito, fez o filme rapidamente, barato e desprezando a convenção que existe dentro da indústria cinematográfica americana que obriga a gravar "take" após "take" da mesma cena. Filmou em Detroit e usou não profissionais - muitos dos quais não falavam inglês - para interpretar os elementos da comunidade hmong. Na maior parte das vezes, dizia aos seus actores amadores para ensaiarem uma cena no local das filmagens e secretamente dava um sinal para a equipa técnica começar logo a gravar.  
"Na realidade, metade das vezes filmei-os sem eles saberem e depois voltava a filmar e juntava tudo", conta sorrindo. "Tinha que ter muito cuidado para conseguir controlar tudo. Não me posso dar ao luxo de ficar parado e estragar tudo. Temos que estar preparados. Se não queremos perder nada, temos que ter a câmara a rolar. Actores não profissionais não repetem as coisas. Fazem por acaso coisas que acabam por se revelar óptimas."  

Os seus filmes mais recentes - "A Troca", "Million Dollar Baby-Sonhos Vencidos", "Mystic River", "As Bandeiras dos Nossos Pais" (para os quais também compôs a banda sonora) e "Cartas de Iwo Jima" - parecem ser ensaios sobre a perda, almas feridas, sacrifício e pecados do passado. "Gran Torino" trata realmente de todos estes temas, mas Clint declara que não procura um modelo para os seus projectos, apenas uma grande história para contar.

"Gostei do percurso dele", diz. "Kowalski é assombrado pelo seu passado. E todos os seus amigos estão mortos ou a morrer. E é mesmo isso que acontece quando temos 78 anos. Gosto do facto de Kowalski aprender alguma coisa. Tive que o colocar neste tipo de situação extrema para ele dar um passo na direcção da tolerância para com outras pessoas e outros costumes. Ele considera estas pessoas como bárbaras porque elas cortam as cabeças às galinhas. Isso parece afectá-lo. Mas ele já cortou cabeças a seres humanos, ou coisa do género." 

Eastwood, que já afirmou que esta é a sua última presença como actor, conta que uma razão por que ficou com o papel do protagonista é, bem, não haver muitos outros actores que pudesse contactar. Gene Hackman, diz, poderia ter sido interessante, mas já está reformado. Talvez Robert Duvall. Mas, no fim de contas, o realizador decidiu que era um papel que valia a pena e que tinha uma vaga semelhança com a sua recorrente personagem de Harry Callahan, o polícia de São Francisco que passou cinco filmes a recarregar a sua arma. 
"Talvez ele tenha alguma da mesma solidão", pondera Eastwood. "Kowalski acredita na lei à maneira tradicional, não está a tentar endireitar tudo o que está torto. Talvez tenha um pouco de Frankie Dunn, a personagem que interpretei em 'Million Dollar Baby'. Talvez um pouco do tipo que fiz em 'Heartbreak Ridge/O Sargento de Ferro'. Mas este tipo tem a sua personalidade própria. É por isso que quis fazer o papel dele. Nesta altura da vida, já não fazia sentido fazer algo que já tivesse feito antes."

Por: Geoff Boucher - Exclusivo

jueves, 12 de marzo de 2009

Deixo aqui ésta imagem criada por mim. baseado em algo que vi quando Portugal entrou em crise... Resumindo... Toca a todos!

Orlando Martins